Foi o surf que permitiu a "um garoto pobre sem perspectiva de vida", que é como Jojó de Olivença se lembra de sua infância, encontrar um caminho que o levasse a uma vida saudável e construtiva. Primeiro como um bem sucedido competidor e atualmente à frente da ONG Projeto Ondas, que tem como objetivo oferecer esta mesma chance que ele teve às crianças em situação de risco do Guarujá, cidade que o carismático baiano escolheu para viver desde os tempos em que competia no CT.
Jojó de Olivença conta como surgiu o Projeto Ondas: Através do esporte eu consegui vencer na vida, ser uma pessoa de bem. Foi quando tive a inspiração de realmente retribuir, e usar toda esta experiência de superação de vida em prol das crianças do Guarujá. - WSL / Projeto Ondas
Próximo de completar 50 anos de idade, ele ainda se empolga nas disputas de baterias na categoria Master, mas diz que não surfa tanto quanto gostaria por estar totalmente envolvido na causa das crianças carentes. Bi-campeão brasileiro, em 88 e 92, e vice em 93, ele passou a correr o CT em 94. Saiu ao final de 98, mas não se esforçou para voltar, pois havia decidido viajar menos e ficar perto da mulher e dois filhos. Foi quando ele abriu, em 99, a escola de surf no Guarujá que, já no ano seguinte, passaria a atuar também como um projeto social.
No CT, seus melhores resultados foram duas finais, contra Sunny Garcia nas Ilhas Reunião em 94, campeonato em que se lembra com orgulho de ter vencido uma bateria contra Kelly Slater, e depois em Biarritz, no Quiksilver Lacanau Pro de 96, contra o próprio Kelly. Em 94 ele foi o "rookie of the year", terminando o ano em 11º lugar, posição que acabaria sendo sua mais alta no ranking durante seus anos na elite. Mas se tem um prêmio que o deixou particularmente feliz no Circuito Mundial foi o "Sportsman of the Year Award", conferido a ele por seu espírito esportivo: "só dava risada, não estava nem ai quando perdia".
Duas vezes campeão brasileiro e integrante do CT por cinco anos, Jojó de Olivença ainda continua espirrando muita água no freesurf e nas competições Masters. - WSL / Projeto Ondas
E é justamente esta atitude positiva que faz com que Jojó enfrente com otimismo a árdua tarefa de conseguir o apoio necessário para o Projeto Onda. Ao longo dos últimos anos ele veio se preparando para essa missão e hoje em dia impressiona pela propriedade com que fala da causa que abraçou. Na entrevista abaixo ele explica como funciona a ONG e faz um apelo para que os atletas brasileiros no CT escutem sua mensagem e o ajudem a proporcionar um futuro melhor para as milhares de crianças carentes do Brasil.
Como foi deixar de ser surfista profissional e passar a dirigir um projeto social?
Não tinha nenhum planejamento quando sai do CT em 1998. A minha única expectativa era de continuar competindo no Brasil, foi o início do Super Surf, em 2000, e fiquei mais dez anos competindo só no Brasil, perto de casa, da família, meu único plano era parar a carreira internacional. Paralelo a competição aqui no Brasil, montei, de 1999 para 2000, uma escola de surf no Guarujá, muito bem estruturada em parceria com o Delphin Hotel e de onde surgiram outras oportunidades.
O surf é a força catalisadora do Projeto Ondas, abrindo as portas de um mundo melhor para as crianças carentes. - WSL / Projeto Ondas
Então a escola, no começo, era um negócio pra ganhar dinheiro?
Foi praticamente isso, escola de surf era uma atividade nova no Brasil e no mundo, que estava virando uma grande febre. Nos cinco primeiros anos bombou, fomos a segunda escola de surf montada no Guarujá e o fluxo era muito grande, embora fosse sazonal. Eram três meses do ano e depois o Guarujá ficava vazio. Eu não tinha muita experiência como empreendedor e ficou muito na dependência do verão, isso foi um ponto negativo.
Em que momento a escola passou a atuar como um projeto social também?
Foi logo no primeiro ano da escola, no inverno de 2000 já estávamos dando aula pra crianças num projeto totalmente viabilizado por voluntários, pela minha equipe que eu tive que dispensar depois da temporada. Começamos este projeto com 20 crianças e me apaixonei pela causa. Durou até 2002. Eu reagrupava a equipe para ganhar dinheiro na temporada, passava a temporada e ficava no voluntariado dando aula pra criançada. Em 2002 eu fiquei sem patrocínio, a galera se dispersou, cada um foi cuidar da sua vida, só que ficou o sonho, o sonho não morreu. Em 2006 eu fui procurado pelo João Luiz, da rede de lojas Overboard, que me contratou como atleta para competir pela empresa. Compartilhei com ele a ideia do trabalho social e ele falou "vamos resgatar isso ai, vamos apadrinhar" e começou a dar um dinheiro por mês. Eu pegava essa grana e dividia com equipe e cada um ganhava um pouquinho. Mas ai eu fui descobrindo que as crianças precisavam de muito mais do que somente aulas de surf e comecei a pensar grande e em 2007 eu tive que formalizar como ONG o nosso trabalho. Foi o ano em que parei de empurrar a criançada na onda e fui pra briga, fui pra rua, pedir doações, pedir patrocínio, correr atrás, em busca de um sonho mesmo. E ai eu lembrei muito da minha história, um garoto pobre de Olivença, que não tinha recurso, não tinha perspectiva de vida, e que através do esporte eu consegui conhecer o mundo, vencer na vida, ser uma pessoa de bem. Foi quando tive a inspiração de realmente retribuir, e usar toda esta experiência de superação de vida em prol das crianças do Guarujá. E disso nasceu, já em 2007, a ideia do Projeto Ondas.
Nos seus anos de Circuito Mundial, Jojó era conhecido por sempre estar sorrindo, passando uma boa energia a todos. Ele continua assim, na foto com Kelly Slater e o apresentador Luciano Huck. - WSL / Projeto Ondas
E você estava preparado para assumir uma ONG ?
Me dediquei muito para adquirir mais conhecimento sobre o terceiro setor, como fazer a gestão de uma ONG, com um estatuto bem bacana, documentação. Foquei durante estes anos em estruturar uma entidade com formato de empresa. Precisa ter um administrativo, precisa ter os coordenadores, a contabilidade, uma estrutura própria independente. Atendemos hoje 60 crianças, segunda, quarta e sexta. Elas tem aulas de surf, que é a ferramenta de atração, a força catalisadora, tem o apoio pedagógico, reforço escolar, trabalhamos com educação ambiental e ética e cidadania, com o objetivo de resgatar e fortalecer valores num trabalho com a família. Então nós temos ai um tripé, que é família, ONG e escola. Esse trabalho visa formar o cidadão, é um trabalho de prevenção, com o objetivo de ampliar a visão de mundo destes garotos que vivem num ambiente extremamente limitado, sem oportunidades, sem boas referências, e com isso nós vamos estimular sonhos. Esses garotos precisam sonhar com um futuro melhor, com uma vida de sucesso e aproveitar as oportunidades que eles tem em razão das informações que recebem na ONG.
Paralelamente à direção da ONG, Jojó ainda consegue ter tempo para treinar um grupo muito especial de alunos particulares que estão vencendo tudo nas categorias de base. Ryan Kainalo é um deles. - WSL / Alex Miranda
Então o seu trabalho não é focado em formar um atleta competidor mas sim um cidadão através do surf?
Exatamente isso, trabalhamos com essa frente de formar bons cidadãos, que consigam surfar as ondas da vida com excelência. Por isso que é o Projeto Ondas, as ondas boas levam ao sucesso e as ondas ruins levam ao fracasso. É uma metáfora, é um paralelo com a vida, com o oceano. Mas agora com o surf entrando nas Olimpíadas eu tenho um grande desejo de criar um braço, um setor dentro da ONG que vise esta questão do alto rendimento. Eu não quis focar de início neste lado do alto rendimento para não criar um ambiente de frustração e de sonhos não realizados, até mesmo em razão da realidade que a gente vive no país, desta questão das marcas estarem investindo tão pouco nos esportes de base. Mas hoje, sendo um esporte olímpico, eu creio que novas portas irão se abrir e teremos que estar preparados. Fora da ONG eu estou vivendo esta experiência, eu tenho treinado alguns garotos particularmente, inclusive eles estão em grande destaque, que são o Rodrigo Saldanha, o Ryan Kainalo, o Felipe Mourão e uma menina também, que é Isabela Saldanha. Eles estão meio que ganhando quase tudo nas categorias de base. Treino eles aqui no Guarujá todas terças e quintas. Pra mim é uma experiência nova, estou curtindo bastante transmitir meus conhecimentos.
Os 60 alunos do Projeto Ondas também tem acesso a apoio pedagógico, reforço escolar, educação ambiental e aulas de ética e cidadania. - WSL / Projeto Ondas
A crianças vem das favelas do Guarujá?
São crianças em risco social, vem de uma situação de vulnerabilidade, por conta da desestruturação familiar e da violação de direitos que todo cidadão brasileiro sofre, não somente o pobre. Mas esta galera que tem menos instrução, menos conhecimento, é que sofre mais. Nosso foco são aquelas crianças que vem lá do fundão, da periferia, que não tem oportunidade nenhuma, não tem banheiro em casa, passam fome, vem de uma situação de pobreza extrema, este é o nosso foco principal. No Guarujá, como em qualquer periferia do Brasil, são muitas as crianças que a gente vê nas vielas das favelas precisando de um socorro.
Como elas chegam, qual é o processo de seleção?
Hoje temos uma lista de espera. Pra fazer a adesão de novas crianças elas passam por um rigoroso processo de avaliação com uma assistente social pra ver se realmente a família tem o perfil para ingressar a criança na ONG.
Jojó de Olivença se enxerga em cada aluno vindo de uma situação de risco e encontrando um novo caminho no surf. - WSL / Projeto Ondas
Entra com qual idade e sai com que idade?
A idade mínima para entrar é de 6 anos de idade, a máxima de 10 anos. A criança fica três anos conosco no projeto básico e tem a possiblidade de retornar pra ONG nos projetos de extensão, que visam uma qualificação profissional. Este ano vamos ter uma oficina de inclusão digital que vai atender alunos de 14 a 20 anos. Muita gente que passou pela ONG tem a oportunidade de retornar neste projeto de informática básica, intermediaria e avançada.
Jojó explica que a molecada é atraída pelo esporte: eu acredito que o esporte é uma poderosa ferramenta de transformação e a gente tem vivido esta experiência ao longo destes dez anos. - WSL / Projeto Ondas
Qual a importância do surf dentro da ONG?
O que eu mais sei fazer na vida é surfar, tudo que eu tenho hoje veio do surf, então eu amo o surf, é água salgada correndo nas veias, eu não poderia escolher outra ferramenta senão o próprio surf. O surf sem dúvida é um dos motivos principais do sucesso do nosso trabalho, é a ferramenta de atração, a força catalisadora. Eles são atraídos pelo esporte, eu acredito que o esporte é uma poderosa ferramenta de transformação e a gente tem vivido esta experiência ao longo deste dez anos. É um desafio e gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar este desafio para os atletas da atualidade filiados a WSL e aos simpatizantes, toda esta turma que acompanha, e que hoje são milhões e milhões pelo mundo inteiro, para refletirem sobre esta questão, "como o surf pode ajudar as pessoas?" Se alguém puder conhecer um pouco melhor o nosso trabalho e se envolver de alguma forma, doando coisas, doando talento, emprestando a sua imagem e fazendo parte com agente desta caminhada, será muito bem vindo. Eu vou fazer isso pro resto da minha vida. O surf é tudo que eu sou hoje, então eu gostaria de sensibilizar toda a turma do surf, os atletas principalmente, nesta questão de estarmos juntos e de se envolver de alguma forma nesta causa. O surf mudou a vida de tantas pessoas, a gente vê o Adriano, o Medina, o Miguel, o surf fez deles grandes homens e a imagens deles representa muito. Essa é a mensagem, precisamos de ajuda, se alguém puder ouvir o grito de socorro destas crianças que venha nos ajudar de alguma forma.
Respeitado por sua trajetória de atleta de ponta, Jojó carregou a tocha olímpica em 2016 e está de olho nas possiblidades que o surf nas Olímpiadas irá oferecer. - WSL / Projeto Ondas
Para saber mais sobre o trabalho de Jójo de Olivença visite ongprojetoondas.org
Jojó de Olivença e a força transformadora do surf
Adrian Kojin
Foi o surf que permitiu a "um garoto pobre sem perspectiva de vida", que é como Jojó de Olivença se lembra de sua infância, encontrar um caminho que o levasse a uma vida saudável e construtiva. Primeiro como um bem sucedido competidor e atualmente à frente da ONG Projeto Ondas, que tem como objetivo oferecer esta mesma chance que ele teve às crianças em situação de risco do Guarujá, cidade que o carismático baiano escolheu para viver desde os tempos em que competia no CT.
Jojó de Olivença conta como surgiu o Projeto Ondas: Através do esporte eu consegui vencer na vida, ser uma pessoa de bem. Foi quando tive a inspiração de realmente retribuir, e usar toda esta experiência de superação de vida em prol das crianças do Guarujá. - WSL / Projeto OndasPróximo de completar 50 anos de idade, ele ainda se empolga nas disputas de baterias na categoria Master, mas diz que não surfa tanto quanto gostaria por estar totalmente envolvido na causa das crianças carentes. Bi-campeão brasileiro, em 88 e 92, e vice em 93, ele passou a correr o CT em 94. Saiu ao final de 98, mas não se esforçou para voltar, pois havia decidido viajar menos e ficar perto da mulher e dois filhos. Foi quando ele abriu, em 99, a escola de surf no Guarujá que, já no ano seguinte, passaria a atuar também como um projeto social.
No CT, seus melhores resultados foram duas finais, contra Sunny Garcia nas Ilhas Reunião em 94, campeonato em que se lembra com orgulho de ter vencido uma bateria contra Kelly Slater, e depois em Biarritz, no Quiksilver Lacanau Pro de 96, contra o próprio Kelly. Em 94 ele foi o "rookie of the year", terminando o ano em 11º lugar, posição que acabaria sendo sua mais alta no ranking durante seus anos na elite. Mas se tem um prêmio que o deixou particularmente feliz no Circuito Mundial foi o "Sportsman of the Year Award", conferido a ele por seu espírito esportivo: "só dava risada, não estava nem ai quando perdia".
Duas vezes campeão brasileiro e integrante do CT por cinco anos, Jojó de Olivença ainda continua espirrando muita água no freesurf e nas competições Masters. - WSL / Projeto OndasE é justamente esta atitude positiva que faz com que Jojó enfrente com otimismo a árdua tarefa de conseguir o apoio necessário para o Projeto Onda. Ao longo dos últimos anos ele veio se preparando para essa missão e hoje em dia impressiona pela propriedade com que fala da causa que abraçou. Na entrevista abaixo ele explica como funciona a ONG e faz um apelo para que os atletas brasileiros no CT escutem sua mensagem e o ajudem a proporcionar um futuro melhor para as milhares de crianças carentes do Brasil.
Como foi deixar de ser surfista profissional e passar a dirigir um projeto social? Não tinha nenhum planejamento quando sai do CT em 1998. A minha única expectativa era de continuar competindo no Brasil, foi o início do Super Surf, em 2000, e fiquei mais dez anos competindo só no Brasil, perto de casa, da família, meu único plano era parar a carreira internacional. Paralelo a competição aqui no Brasil, montei, de 1999 para 2000, uma escola de surf no Guarujá, muito bem estruturada em parceria com o Delphin Hotel e de onde surgiram outras oportunidades.
O surf é a força catalisadora do Projeto Ondas, abrindo as portas de um mundo melhor para as crianças carentes. - WSL / Projeto OndasEntão a escola, no começo, era um negócio pra ganhar dinheiro? Foi praticamente isso, escola de surf era uma atividade nova no Brasil e no mundo, que estava virando uma grande febre. Nos cinco primeiros anos bombou, fomos a segunda escola de surf montada no Guarujá e o fluxo era muito grande, embora fosse sazonal. Eram três meses do ano e depois o Guarujá ficava vazio. Eu não tinha muita experiência como empreendedor e ficou muito na dependência do verão, isso foi um ponto negativo.
Em que momento a escola passou a atuar como um projeto social também? Foi logo no primeiro ano da escola, no inverno de 2000 já estávamos dando aula pra crianças num projeto totalmente viabilizado por voluntários, pela minha equipe que eu tive que dispensar depois da temporada. Começamos este projeto com 20 crianças e me apaixonei pela causa. Durou até 2002. Eu reagrupava a equipe para ganhar dinheiro na temporada, passava a temporada e ficava no voluntariado dando aula pra criançada. Em 2002 eu fiquei sem patrocínio, a galera se dispersou, cada um foi cuidar da sua vida, só que ficou o sonho, o sonho não morreu. Em 2006 eu fui procurado pelo João Luiz, da rede de lojas Overboard, que me contratou como atleta para competir pela empresa. Compartilhei com ele a ideia do trabalho social e ele falou "vamos resgatar isso ai, vamos apadrinhar" e começou a dar um dinheiro por mês. Eu pegava essa grana e dividia com equipe e cada um ganhava um pouquinho. Mas ai eu fui descobrindo que as crianças precisavam de muito mais do que somente aulas de surf e comecei a pensar grande e em 2007 eu tive que formalizar como ONG o nosso trabalho. Foi o ano em que parei de empurrar a criançada na onda e fui pra briga, fui pra rua, pedir doações, pedir patrocínio, correr atrás, em busca de um sonho mesmo. E ai eu lembrei muito da minha história, um garoto pobre de Olivença, que não tinha recurso, não tinha perspectiva de vida, e que através do esporte eu consegui conhecer o mundo, vencer na vida, ser uma pessoa de bem. Foi quando tive a inspiração de realmente retribuir, e usar toda esta experiência de superação de vida em prol das crianças do Guarujá. E disso nasceu, já em 2007, a ideia do Projeto Ondas.
Nos seus anos de Circuito Mundial, Jojó era conhecido por sempre estar sorrindo, passando uma boa energia a todos. Ele continua assim, na foto com Kelly Slater e o apresentador Luciano Huck. - WSL / Projeto OndasE você estava preparado para assumir uma ONG ? Me dediquei muito para adquirir mais conhecimento sobre o terceiro setor, como fazer a gestão de uma ONG, com um estatuto bem bacana, documentação. Foquei durante estes anos em estruturar uma entidade com formato de empresa. Precisa ter um administrativo, precisa ter os coordenadores, a contabilidade, uma estrutura própria independente. Atendemos hoje 60 crianças, segunda, quarta e sexta. Elas tem aulas de surf, que é a ferramenta de atração, a força catalisadora, tem o apoio pedagógico, reforço escolar, trabalhamos com educação ambiental e ética e cidadania, com o objetivo de resgatar e fortalecer valores num trabalho com a família. Então nós temos ai um tripé, que é família, ONG e escola. Esse trabalho visa formar o cidadão, é um trabalho de prevenção, com o objetivo de ampliar a visão de mundo destes garotos que vivem num ambiente extremamente limitado, sem oportunidades, sem boas referências, e com isso nós vamos estimular sonhos. Esses garotos precisam sonhar com um futuro melhor, com uma vida de sucesso e aproveitar as oportunidades que eles tem em razão das informações que recebem na ONG.
Paralelamente à direção da ONG, Jojó ainda consegue ter tempo para treinar um grupo muito especial de alunos particulares que estão vencendo tudo nas categorias de base. Ryan Kainalo é um deles. - WSL / Alex MirandaEntão o seu trabalho não é focado em formar um atleta competidor mas sim um cidadão através do surf? Exatamente isso, trabalhamos com essa frente de formar bons cidadãos, que consigam surfar as ondas da vida com excelência. Por isso que é o Projeto Ondas, as ondas boas levam ao sucesso e as ondas ruins levam ao fracasso. É uma metáfora, é um paralelo com a vida, com o oceano. Mas agora com o surf entrando nas Olimpíadas eu tenho um grande desejo de criar um braço, um setor dentro da ONG que vise esta questão do alto rendimento. Eu não quis focar de início neste lado do alto rendimento para não criar um ambiente de frustração e de sonhos não realizados, até mesmo em razão da realidade que a gente vive no país, desta questão das marcas estarem investindo tão pouco nos esportes de base. Mas hoje, sendo um esporte olímpico, eu creio que novas portas irão se abrir e teremos que estar preparados. Fora da ONG eu estou vivendo esta experiência, eu tenho treinado alguns garotos particularmente, inclusive eles estão em grande destaque, que são o Rodrigo Saldanha, o Ryan Kainalo, o Felipe Mourão e uma menina também, que é Isabela Saldanha. Eles estão meio que ganhando quase tudo nas categorias de base. Treino eles aqui no Guarujá todas terças e quintas. Pra mim é uma experiência nova, estou curtindo bastante transmitir meus conhecimentos.
Os 60 alunos do Projeto Ondas também tem acesso a apoio pedagógico, reforço escolar, educação ambiental e aulas de ética e cidadania. - WSL / Projeto OndasA crianças vem das favelas do Guarujá? São crianças em risco social, vem de uma situação de vulnerabilidade, por conta da desestruturação familiar e da violação de direitos que todo cidadão brasileiro sofre, não somente o pobre. Mas esta galera que tem menos instrução, menos conhecimento, é que sofre mais. Nosso foco são aquelas crianças que vem lá do fundão, da periferia, que não tem oportunidade nenhuma, não tem banheiro em casa, passam fome, vem de uma situação de pobreza extrema, este é o nosso foco principal. No Guarujá, como em qualquer periferia do Brasil, são muitas as crianças que a gente vê nas vielas das favelas precisando de um socorro.
Como elas chegam, qual é o processo de seleção? Hoje temos uma lista de espera. Pra fazer a adesão de novas crianças elas passam por um rigoroso processo de avaliação com uma assistente social pra ver se realmente a família tem o perfil para ingressar a criança na ONG.
Jojó de Olivença se enxerga em cada aluno vindo de uma situação de risco e encontrando um novo caminho no surf. - WSL / Projeto OndasEntra com qual idade e sai com que idade? A idade mínima para entrar é de 6 anos de idade, a máxima de 10 anos. A criança fica três anos conosco no projeto básico e tem a possiblidade de retornar pra ONG nos projetos de extensão, que visam uma qualificação profissional. Este ano vamos ter uma oficina de inclusão digital que vai atender alunos de 14 a 20 anos. Muita gente que passou pela ONG tem a oportunidade de retornar neste projeto de informática básica, intermediaria e avançada.
Jojó explica que a molecada é atraída pelo esporte: eu acredito que o esporte é uma poderosa ferramenta de transformação e a gente tem vivido esta experiência ao longo destes dez anos. - WSL / Projeto OndasQual a importância do surf dentro da ONG? O que eu mais sei fazer na vida é surfar, tudo que eu tenho hoje veio do surf, então eu amo o surf, é água salgada correndo nas veias, eu não poderia escolher outra ferramenta senão o próprio surf. O surf sem dúvida é um dos motivos principais do sucesso do nosso trabalho, é a ferramenta de atração, a força catalisadora. Eles são atraídos pelo esporte, eu acredito que o esporte é uma poderosa ferramenta de transformação e a gente tem vivido esta experiência ao longo deste dez anos. É um desafio e gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar este desafio para os atletas da atualidade filiados a WSL e aos simpatizantes, toda esta turma que acompanha, e que hoje são milhões e milhões pelo mundo inteiro, para refletirem sobre esta questão, "como o surf pode ajudar as pessoas?" Se alguém puder conhecer um pouco melhor o nosso trabalho e se envolver de alguma forma, doando coisas, doando talento, emprestando a sua imagem e fazendo parte com agente desta caminhada, será muito bem vindo. Eu vou fazer isso pro resto da minha vida. O surf é tudo que eu sou hoje, então eu gostaria de sensibilizar toda a turma do surf, os atletas principalmente, nesta questão de estarmos juntos e de se envolver de alguma forma nesta causa. O surf mudou a vida de tantas pessoas, a gente vê o Adriano, o Medina, o Miguel, o surf fez deles grandes homens e a imagens deles representa muito. Essa é a mensagem, precisamos de ajuda, se alguém puder ouvir o grito de socorro destas crianças que venha nos ajudar de alguma forma.
Respeitado por sua trajetória de atleta de ponta, Jojó carregou a tocha olímpica em 2016 e está de olho nas possiblidades que o surf nas Olímpiadas irá oferecer. - WSL / Projeto OndasPara saber mais sobre o trabalho de Jójo de Olivença visite ongprojetoondas.org
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